segunda-feira, 8 de março de 2010

Inclusão / Exclusão

"Caro diferente

Venho por este meio comunicar que percebi que a tua vida não se resume a ser diferente. Dizer-te também que peço desculpas por todas as vezes em que te ofendi, te agredi, denegri a tua imagem e fiz-te sentir que não eras nada nem ninguém. Todas as vezes em que te passei á frente na fila do refeitório em vez de te dar prioridade, não por seres diferente, mas porque eu deveria ser uma pessoa simpática. Todas as vezes em que embati contra ti e ri-me de ti vendo a tua aflição, sei hoje que deveria ter te ajudado a reunir os teus papeis e perguntado se estavas bem. Todas aquelas vezes em que fazia com que o teu almoço caísse ao chão, podia ter partilhado contigo uma ou outra refeição. Todas as vezes em que gritei ao teu ouvido palavras obscenas das quais hoje me envergonho bastante. Em momento algum da minha vida parei para pensar na tua diferença, apenas me aproveitava dela das piores maneiras possíveis. Nem mesmo quando vi as tuas lágrimas escorrerem e as tuas palavras para parar, eu consegui ceder ao impulso de te humilhar.
Muito sinceramente, hoje, muitos anos depois, arrependo-me amargamente. Deves estar a perguntar-te o porquê desta carta, se nem o teu nome nunca soube. A verdade é que fui pai/mãe e hoje por ironia do destino, na escola, no caminho de casa, é o meu filho que é tratado como tu. Como uma pessoa diferente. Se eu podesse mostrar àqueles meninos o quanto o meu filho é especial, inteligente, alegre, se eles pudessem por um momento parar de trata-lo como eu te tratava a ti. Se eu pudesse trazer de novo a alegria ao meu querido e amado filho…
Se eu pudesse voltar o tempo atrás, se pudesse ser de novo um adolescente e voltar a estar na mesma turma que tu… Sabes qual seria a primeira coisa que te faria?
- “Perguntar-te-ía o nome e, assim deixarias de ser o diferente e passarias a ser mais um, apenas mais um adolescente alegre, rebelde e feliz”.As minhas sinceras desculpas por ter eu sido um completo “diferente”São muitas as lágrimas derramadas, por cores não amadas, muitas as noites passadas e raças odiadas.
Se apenas no mundo tudo se resumisse ao amor, à aceitação, à concordância e à paz.Se apenas tudo no mundo fosse felicidade, luz e certezas. Está nas nossas mãos preparar os corações para o diferente. Porque nem tudo o que é diferente é negativo, nem tudo o que não é branco será preto. Aceitar o colega que é falador e a amiga que se veste de negro, aceitar o professor que é exigente, aceitar um velho doente. Mas aceitar não é só concordar em partilhar um espaço ou tempo, é querer saber, interessar-se, falar e dar-se."

Por: Brenda Cunha in "TODOS CONTRA O BULLYING" - Facebook

3 comentários:

Paulinha disse...

Forte... ainda estou a recuperar da leitura... excelente texto!

Angel disse...

Espero sinceramente que este texto xegue ate muita gente e os faça de uma maneira ou de outra pensar nisto... Porque muitas das vezes é a realidade.

Grilinha disse...

O meu coração doí. Vivemos num triste mundo cruel. Cada vez os pais incentivam mais a competitividade e esquecem de ensinar os valores aos seus filhos.
Orgulho-me de ser "normal" e sempre ter aceite todos os diferentes, de lhes ter respeito.
A minha avó ainda de mentalidades antigas, não queria amigas minhas pretinhas lá em casa e eu queixei-me à minha mãe. Gostava tanto delas.
Eram minhas amigas e magoáva-me a minha querida avó vê-las como uma má influência. Quem é má influência com 10 anos e tudo só baseado na cor da pele ?????
A minha mãe não pensava assim e sempre respeitamos todos. Um vizinho com deficiência mental vinha ter comigo. Ao principio metia-me medo, mas ao fim de umas horas era só rir, porque ele era muito divertido e bem disposto. Ninguém entendia...
E eu nunca entendi porque não era de não entender.
Sofria por um primo surdo. Ainda me custa ver que foi pouco "longe" por muito preconceito....
Bolas, porcaria de sociedade esta. Algum dia será diferente ? Como conseguimos sobreviver a tudo isto ???
Cada um lutando por si....mas temos de ter mais força. Temos de lutar por instituir outros conceitos nesta sociedade podre...
Força, querida. Seremos fortes e ensinaremos os nossos meninos a sê-lo também. Beijinhos